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O Caminho da Vida

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... Levantou no mundo as muralhas do ódio... E tem-nos feito marchar a passos de ganso para a miséria e morticínios.Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.


(Charles Chaplin , O último discurso, do filme O Grande Ditador)

Mudança de layout

Nos últimos dias fui obrigado a fazer algumas alterações significativas no layout do blog. O antigo template possuía alguns erros que, em navegadores como Firefox, tonavam a a leitura do texto confusa além de desconfigurar os itens da barra lateral.
Espero que vocês gostem desse novo modelo e estou aberto a suas opiniões.

Nas próximas semanas estarei postando novos textos. Peço desculpas pela demora.

Ecossocialismo

Atualmente os temas meio-ambiente, ecossistema, aquecimento global e seus derivados estão estampados nos mais variados tipos de mídia. Esta década em que vivemos experimenta todos os flagelos que séculos de subjugação constante da natureza pelo homem proporciona. Furacões, secas, desastres ambientais mais constantes já se tornaram uma rotina para os que acompanham os noticiários ou simplesmente saem à rua.

Como conseqüência dessa mudança de foco da sociedade, diversos conceitos novos apareceram: coleta seletiva, responsabilidade ambiental, responsabilidade sócio-ambiental, reciclagem, reflorestamento (essa última com algumas ressalvas). Todas claramente com boas intenções de frear (ou ao menos diminuir) o que séculos de capitalismo ostentatório e consumista produziu.

Durante alguns estudos pude ter contato com o livro de Michel Löwy, Ecologia e Socialismo (2006, Cortez). Nele o sociólogo põe em questão essas novas tendências ecológicas que tentam conjugar sustentabilidade e produção. A lógica usada por Löwy é simples: os meios de produção industriais e o consumismo ostentatório da nossa atual sociedade são os responsáveis pela degradação incalculável do nosso planeta e não pode haver sustentabilidade sem que esses meios produtivos e o modo de consumo sejam completamente alterados.

Indiscutivelmente o ecossistema está fadado ao descaso e à indiferença da moderna sociedade capitalista-industrial. Mesmo que as discussões a respeito tenham tomado corpo nas últimas décadas é visível a incoerência fatal entre o que é proposto e o que é efetivamente praticado. Um exemplo clássico são os Estados Unidos da América. Seu consumo e produção de bens manufaturados são os maiores do globo e, obviamente, a maior produção de dejetos e de substâncias que contribuem para o aquecimento global também pertence a eles. O mesmo país que é o maior contribuinte da degradação do meio ambiente é o mesmo que se nega, veementemente, a assinar tratados de redução de emissões de poluentes alegando a diminuição do ritmo de produção. Segundo pesquisas se levássemos o consumo de energia dos EUA aos demais países do globo as reservas de petróleo se esgotariam em dezenove dias (apud LÖWY, 2006, pg. 50).

É imprescindível perceber o sutil manejo das atividades capitalistas quanto ao “capitalismo limpo”. A falsa idéia de que as atividades capitalistas podem ser compatíveis com a manutenção da vida a partir do controle dos maus capitalistas em detrimento dos bons capitalistas verdes é a demonstração da necessidade de mascaramento das atividades da sociedade burguesa-industrial.

“É o próprio sistema, fundado na impiedosa competição, nas exigências da rentabilidade, na corrida atrás do lucro rápido que é o destruidor dos equilíbrios naturais. O pretenso capitalismo verde não passa de uma manobra publicitária, de uma etiqueta que visa vender uma mercadoria, ou, na melhor das hipóteses, de uma iniciativa local equivalente a uma gota de água no solo árido do deserto capitalista” (LÖWY, 2006, p.50-51).

Recentemente realizei com meus colegas de faculdade uma breve pesquisa entre as indústrias da cidade de Londrina sobre a abrangência de suas políticas sócio-ambientais. Várias delas simplesmente se negaram a dar qualquer informação. O que foi verificado é que, mesmo diante de uma simples análise dos fatores fundamentais de suas ações ambientais, a recusa e incompreensão da questão demonstrou a extrema ausência de gestão e preocupação com o assunto. Este fato, certamente, vem precedido por uma mentalidade capitalista que “com seu cálculo imediatista de perdas e lucros, é intrinsecamente contraditória com uma racionalidade ecológica” (LÖWY, 2006, p.50). É possível, ainda, apontar que tais atitudes se mostraram coerentes ao estilo de gestão estatal que temos atualmente onde a conscientização das pequenas e médias empresas sobre suas influências na sustentabilidade do meio ambiente é sistematicamente ignorada.

A recusa dessas empresas, em especial as de pequeno e médio porte, se fundamenta, principalmente, no fato de não possuírem nenhuma estruturação que vise a sustentanbilidade ambiental. Em débito com as legislações ambientais acreditam que, pelo porte e aparente abrangência de suas atividades, representam uma ameaça muito pequena ao meio ambiente. Novamente vê-se que a mentalidade reinante na sociedade obviamente é reproduzida nas empresas. Nenhuma empresa se vê realmente como uma responsável direta pelas alterações ambientais. Todas são imbuídas de um ideário que visa o lucro, a produção e o crescimento de forma imediatista e completamente indiferente com as gerações futuras.

Uma transformação radical se faz necessária. O capitalismo não consegue resolver os principais problemas ambientais (e aqui não vamos entrar no âmbito social) que ele próprio criou.

Portanto, as ações das empresas atuais se fundam inocentemente sobre a incompatibilidade do sistema onde estão inseridas e as atividades nocivas ao meio ambiente e a continuidade da vida do planeta. Não se trata da simples alteração do modo de produção ou a redução dos danos causados ao meio ambiente e sim de uma incontestável transformação do modo de produção, consumo e relacionamento humano. Tais mudanças, evidentemente, carecem de uma força muito grande por parte dos órgãos governamentais, para-estatais e da própria sociedade que deve suplantar a cultura do uso e da ostentação e atribuir uma mentalidade ecológica aos novos arquétipos que se almejam atingir.

As reformar e tentativas paliativas são de todo insuficientes. As transformações que o capitalismo causa à natureza têm pouco valor diante das inúmeras "vantagens" obtidas a partir da exploração dos recursos naturais e a degradação do meio ambiente. A convergência de parte do faturamento em ações que compensem a destruição dos ambientes naturais se apresenta estéril perante o restante do faturamento que será usado no crescimento da produção, implemento de novas e poluidoras formas de exploração dos recursos naturais.

Atualmente vivemos imersos nesse sistema contínuo de consumo e produção. Não paramos para analisar que as atividades hoje realizadas serão refletidas em anos, décadas e séculos. E, claramente, isso faz parte do pensamento daquilo que chamamos de sociedade contemporânea.

Constantemente sou questionado da seguinte forma: "Mas devemos (nós os conscientes) agir da forma que podemos. Mesmo que a reciclagem do lixo de nossas residências seja insignificante temos que fazer nossa parte”. Concordo plenamente. Mas não posso deixar de me afirmar que mesmo que o mundo todo resolva reciclar seu lixo o problema não será estirpado. Será apenas mais um paliativo.

LÖWY, Michael. Ecologia e Socialismo. São Paulo: Cortez, 2006.

Dinheiro não traz felicidade, auto-conhecimento sim

O fim da Idade Média e a acumulação primitiva de capital tornaram-se um marco na história. A partir desses momentos o homem se viu livre para alcançar, sem amarras ou taxações, a tão sonhada felicidade. Esta se tornou um o foco de todos os homens, ricos ou pobres. Com a explosão do sistema capitalista em que vivemos o dinheiro se tornou o meio para se atingir essa felicidade. Consumir, adquirir, e possuir tornou-se as metas do homem moderno para que satisfaça a sua sede de sucesso.

Algumas semanas atrás meu amigo e xará Leandro Silva me indicou um texto de Manoel Baucells para ler e que achei interessante. Seu título traz uma afirmação "O dinheiro ajuda, mas não traz a felicidade". Há vários anos tenho pensado sobre a necessidade incontrolável que temos de ter dinheiro a fim de conquistar-mos os objetos que, teoricamente, irão satisfazer nossas necessidades, sejam monetárias, de status ou mesmo afetivas. Não entrarei aqui em considerações sociológicas, pois este não é o intuito do texto, mas sabe-se que atualmente somos vítimas e co-autores de uma sociedade baseada na acumulação de riquezas e que atribui vida às coisas inanimadas através da mesma necessidade que temos do dinheiro. A pergunta, portanto, é "será possível ser feliz nesta mesma sociedade sem a necessidade de ostentar o dinheiro e os bens que ele pode proporcionar?".

No atual estágio da nossa história, ter poder aquisitivo (infelizmente) é pré-requisito básico para poder ser chamado de cidadão! Não há como ser feliz nessa sociedade sem o mínimo poder de compra, pois as necessidades que nos são brutalmente forçadas sutilmente sugeridas como normais exibem que tenhamos capacidade de comprar. Entretanto apesar de o dinheiro estar entre os requisitos para a felicidade obviamente ele não é o ponto essencial. Em 2002 o IBOPE realizou uma pesquisa nas principais capitais do país e parte do interior e constatou que 41% das pessoas que tinham rendas até R$379,00 consideravam-se felizes em contrapartida apenas 25% das que tinham rendas acima de R$4.500,00 se declaravam igualmente felizes. Em escala global tal perspectiva também se verifica. A partir de determinada quantidade de renda a felicidade não varia muito.

O que, então, trará a felicidade? Esta é uma pergunta que deve ser respondida por cada um, individualmente. Para isso deve-se pensar o que realmente lhe dá prazer e vontade de continuar a viver. Isso nada mais é do que um exercício de auto-conhecimento que todos, sem distinção, deveríamos nos propor a realizar. Sem metas ou com metas distorcidas de sucesso e felicidade é impossível que realmente tenhamos consciência do ponto onde queremos chegar e, ainda mais terrível, de onde estamos.

Muitos buscam a felicidade sem ao menos saber o que realmente vem a ser essa necessidade. Todos à minha volta têm vontade de serem felizes e quase a totalidade, para ser gentil, atribui isso ao acúmulo de riqueza. Porém, como visto, o dinheiro realmente não é fundamental para atingir a felicidade e sim apenas um meio para manter uma qualidade de vida razoável.

Se atingir um patrimônio gigantesco é o foco de grande parte da população é até compreensível, mas não podemos nos esquecer de que existem coisas que nem o dinheiro é capaz de comprar: amizade, família, amor, reconhecimento, felicidade.

Continua...

Cadastramento no Rec6

O Rec6 é um site em que os próprios usuários enviam os links para as notícias e decidem quais devem aparecer na capa. Após enviada, a notícia fica disponível para que outros usuários (editores rec6) votem. Caso consiga um número suficiente de votos, essa notícia é promovida para a capa do site.
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As inovações tecnológicas e suas implicações sociais

As sensíveis e constantes mudanças nas estruturas sociais, políticas e comerciais que o advento das novas tecnologias, especialmente da internet, têm colocados todos nós, contemporâneos do início de século XXI, perante umas das mais rápidas mudanças que já ocorreu no mundo em todos os tempos. Todos os valores que há alguns anos eram tidos como intangíveis estão sendo ultrapassados por tendências cada vez mais presentes no nosso dia-a-dia.

O jornalismo, antes restrito aos grandes conglomerados de telecomunicação, está sendo substituído pelos meios de comunicação mais baratos e de fácil compartilhamento. Um exemplo "clássico" são os blogs. Como um sistema que garante que qualquer um possa expor suas idéias a cerca de qualquer assunto a qualquer momento e de forma rápida e barata desenvolveu também a interessante capacidade de compartilhamento e propagação de idéias a respeito de determinada notícia antes formatada e condensada de acordo com os ideais e interesses de meia dúzia de setores da economia e política. A possibilidade de difundir várias idéias vistas dos mais variados ângulos de uma notícia agrada à maioria dos adeptos desse tipo de mídia, uma vez que o distanciamento das especulações e distorções da mídia tradicional cai bem aos que, detentores de um nível cultural mais alto, priorizam a inventividade e originalidade do que lêem e vêem.



As mudanças, como dito, por serem extremamente rápidas têm causado um imenso choque de valores. O compartilhamento de arquivos e textos sem distinção esbarra nas leis de direitos autorais até então firmemente defendidos por todos mesmo que inconscientemente. A imagem de ilegalidade e a "transgressão" daqueles adeptos de tais práticas podem ser vistos como efeitos colaterais desse choque de valores. Ao mesmo tempo em que é interessante dispor de músicas e vídeos com a agilidade de um click sem as preocupações (e custos) de adquiri-los nas lojas é preocupante imaginar até que ponto esse sistema unilateral irá se manter. Até onde as indústrias cinematográficas e fonográficas, por exemplo, irão suportar a crescente demanda de conteúdo sem o devido retorno? Há algum outro sistema que poderá substituí-lo?



Digressões catastróficas à parte, pode-se afirmar que a culminação final dessas mudanças é incerta. Nenhuma previsão pode realmente vislumbrar o desfecho desse embate. Certo é que as tendências tecnológicas influenciam e fascinam os mais conservadores e que a maioria dessas tendências vêm se afirmando dia pós dia. Nesses tempos de perplexidade em que vivemos tudo parece incerto e efêmero. Todas as novidades surgem como relâmpagos e se dissipam no ar. As que efetivamente permanecem o fazem geralmente pela inconstância dos indivíduos alienados por tais novidades ou, em casos raros, pela necessidade de tê-lo (necessidade essa geralmente criada por essa mesma novidade). Pode-se notar, então, que essa incerteza, relatividade e inconstância das relações tecnológicas passam a influenciar todos os campos da sociabilidade, uma vez que os avanços tecnológicos permeiam atualmente todos os campos da vida em sociedade. O ser humano social passou a reproduzir a rapidez, fugacidade e o caráter descartável da tecnologia nos campos das relações humanas, do meio ambiente, da política, ética e moral.



É possível notar, então, que os dilemas e mudanças que estamos enfrentando suplantam as barreiras da economia, política, comércio e comunicação. Tais mudanças estão acontecendo dentro de cada ser humano que imerso nas ondas da tecnologia esquece-se de que o planeta, as relações humanas, as atividades que exigem a sensibilidade e a criatividade puramente humanas não são descartáveis nem podem ser recarregadas a cada click do mouse como programas de computador. É cada dia mais latente a negação das atividades humanas em detrimento das novidades arrojadas do mundo high-tech.



Logo, as implicações das mudanças no âmbito da tecnologia estão intimamente ligadas e influenciam constantemente a forma como o homem moderno vê o mundo e se comporta diante de situações antes precisas e certas e agora discrepantes e incoerentes com a realidade.



O necessário, talvez, seja encontrar o tão sonhado equilíbrio entre esses dois mundos distintos. O que, provavelmente, será algo dificilmente alcançado.


Baseado no texto de Nemo Nox, "Mundos em colisão"

Resenha: O monge e o executivo


Recentemente tive a oportunidade de ler o livro de James C. Hunter “O monge e o executivo: Uma história sobre a essência da liderança”. Nele Hunter retrata a história de John Daily, um executivo que, após encontrar sérias dificuldades na vida profissional e particular, procura ajuda em um retiro sobre liderança num mosteiro. Durante uma semana Daily e outros participantes tem encontros com Leonard Hoffman, uma lenda no mundo dos negócios que largou tudo para se tornar frade naquele mosteiro. Durante os encontros eles tocam pontos vitais para definir as características, métodos e sentidos de um caráter de liderança.

Hunter utiliza diálogos simples e estimulantes para explicar conceitos pertinentes à qualidade da liderança. As indagações feitas pelos personagens a cerca dos assuntos abordados contribuem para que o leitor obtenha o máximo sobre o assunto abordado.

No primeiro capítulo Hunter faz uma distinção clara entre gerenciamento e liderança, autoridade e poder. Segundo o autor gerenciamento diz respeito às coisas que precisamos controlar. Gerenciamos nossas vidas, nosso talão de cheques nossos recursos, mas não fazemos isso com pessoas. Pessoas devem se lideradas. Pela definição apresentada no livro temo que “Liderança: É a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem intusiasmaticamente visando atingir os objetivos identificados como sendo para o bem comum” (pg 25). Neste capítulo Hunter ainda explora a diferenciação entre poder e autoridade. Poder pode ser entendido como a forma coercitiva que usamos para obrigar alguém a fazer algo que queremos. Já a autoridade exige que tenhamos certa influência pessoal afim de que as pessoas sejam levadas a fazer algo pelo fato de estarem emocionalmente ligadas a nós. Outro ponto interessante sobre autoridade e poder diz respeito a como o poder é uma faculdade e pode ser tirado de alguém assim como foi dado enquanto a autoridade é uma habilidade e se relaciona em como a pessoa é, como é o seu caráter e, portanto, não pode ser tirada ou vendida.

Mudar nossa forma de pensar e não nos apegarmos aos velhos paradigmas passa a ser um assunto corrente no segundo capítulo do livro. A questão da mudança e transformação é aplicada à forma como atualmente alguns líderes têm se relacionado com seus subordinados. Atualmente muitas organizações não focam os clientes como a finalidade pela qual existe a empresa. Desta forma os funcionários estão preocupados em apenas manter o superior satisfeito e, como um efeito cascata, toda a organização entra nesse modelo. No entanto uma alternativa sensata a esse antigo arquétipo foi mostrada no livro. Segundo Hunter, os funcionários devem estar preocupados em servir aos clientes e os supervisores aos seus subordinados. Liderança servidora. Uma alteração nesse antigo paradigma obviamente não é facilmente implantada nas empresas, porém é visível que, nas empresas onde existe esse clima, o relacionamento dos funcionários entre si, como os clientes e com os supervisores passa a ser excelente.
O modelo de liderança servidora é bem explorado pelo autor. Jesus de Nazaré teria sido, segundo o autor, um dos maiores líderes de todos os tempos. Sem usar nenhuma forma de poder, pois não o tinha, ele propagou a mensagem de que para liderar devemos servir, ou seja, identificar as reais necessidades do outro e supri-las. Para isso haverá a necessidade de sacrifícios. Esses sacrifícios estão baseados no amor. “Amor é o que o amor faz” (pg 68). É a ação compreender, de se por no lugar do outro. Tal aspecto do amor passa a ser tão importante que o autor o explora em outro capítulo. E por fim o amor estaria baseado na vontade, isto é, a intenção seguida da ação.
A ação do amor passa a ser esmiuçada no capítulo quatro. O autor toma como base as variantes de “amor” em grego: eros, atração sexual; storgé, relacionamento entre familiares; philos, amor fraternal e ágape o amor incondicional em que faz-se o bem a outrem sem querer nada em troca. Esse último é um amor baseado no comportamento. A partir da caracterização de qual seria o amor a ser usado com a liderança o autor lança mão de palavras-chave que formariam o caráter de um líder: paciência, bondade, humildade, respeito, generosidade, perdão, honestidade, compromisso.
O capítulo quinto trata de um tema extremamente pertinente à área administrativa: a criação de ambientes propícios para a formação das pessoas. O relacionamento que temos com as pessoas é um fator decisivo em como elas irão crescer e se desenvolver durante a vida. Quando conhecemos alguém nossa relação com essa pessoa é neutra, mas à medida que vamos tendo tratamentos recíprocos podemos aumentar nossa “conta de relacionamento”, com atitudes altruístas e que valorizem o outro, ou diminuí-la, com atitudes egoístas e que menosprezem a individualidade daquela pessoa.
A escolha, o livre arbítrio, e a responsabilidade sobre nossos atos são apontados no sexto capítulo. Segundo o autor Sigmund Freud teve uma influência negativa sobre a sociedade atual. A característica contemporânea de apontar fatores determinísticos para os atos das pessoas passa pelo legado da psicanálise de Freud. Hunter enfatiza que temos sim a capacidade de escolher e devemos nos responsabilizar por nossos atos. Apesar de ter descaracterizado a questão do determinismo, o autor, com um caráter extravagantemente libertário, coloca o homem como um ser imune às ações da sociedade que o cerca. Hunter pecou ao afirmar que o homem é um ser livre, possuidor do cristianizado livre-arbítrio. Não se pode negar as diversas implicações extremamente negativas que as idéias determinísticas causaram e causam à sociedade atual, no entanto devemos ponderar que a capacidade do homem julgar o que lhe parece melhor não é maior que a capacidade de a própria sociedade agir sobre seu julgamento, seja com regras morais, religiosas, ou jurídicas.

Liderar, portanto, compreende uma afirmação ou mudança diária da capacidade do indivíduo ver, relacionar-se, comprometer-se, servir, arriscar-se, e realizar pelo outro. Um líder deverá estar atento a todos esses detalhes. A recompensa vem justamente em poder, a cada dia, tirar o máximo de bom de todas as pessoas e ajudá-las a conseguir o que precisam.

Referência

HUNTER, James C. O Monge e o Executivo: Uma história sobre a Essência da Liderança. 18. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.