Atualmente os temas meio-ambiente, ecossistema, aquecimento global e seus derivados estão estampados nos mais variados tipos de mídia. Esta década em que vivemos experimenta todos os flagelos que séculos de subjugação constante da natureza pelo homem proporciona. Furacões, secas, desastres ambientais mais constantes já se tornaram uma rotina para os que acompanham os noticiários ou simplesmente saem à rua.
Como conseqüência dessa mudança de foco da sociedade, diversos conceitos novos apareceram: coleta seletiva, responsabilidade ambiental, responsabilidade sócio-ambiental, reciclagem, reflorestamento (essa última com algumas ressalvas). Todas claramente com boas intenções de frear (ou ao menos diminuir) o que séculos de capitalismo ostentatório e consumista produziu.
Durante alguns estudos pude ter contato com o livro de Michel Löwy, Ecologia e Socialismo (2006, Cortez). Nele o sociólogo põe em questão essas novas tendências ecológicas que tentam conjugar sustentabilidade e produção. A lógica usada por Löwy é simples: os meios de produção industriais e o consumismo ostentatório da nossa atual sociedade são os responsáveis pela degradação incalculável do nosso planeta e não pode haver sustentabilidade sem que esses meios produtivos e o modo de consumo sejam completamente alterados.
Indiscutivelmente o ecossistema está fadado ao descaso e à indiferença da moderna sociedade capitalista-industrial. Mesmo que as discussões a respeito tenham tomado corpo nas últimas décadas é visível a incoerência fatal entre o que é proposto e o que é efetivamente praticado. Um exemplo clássico são os Estados Unidos da América. Seu consumo e produção de bens manufaturados são os maiores do globo e, obviamente, a maior produção de dejetos e de substâncias que contribuem para o aquecimento global também pertence a eles. O mesmo país que é o maior contribuinte da degradação do meio ambiente é o mesmo que se nega, veementemente, a assinar tratados de redução de emissões de poluentes alegando a diminuição do ritmo de produção. Segundo pesquisas se levássemos o consumo de energia dos EUA aos demais países do globo as reservas de petróleo se esgotariam em dezenove dias (apud LÖWY, 2006, pg. 50).
É imprescindível perceber o sutil manejo das atividades capitalistas quanto ao “capitalismo limpo”. A falsa idéia de que as atividades capitalistas podem ser compatíveis com a manutenção da vida a partir do controle dos maus capitalistas em detrimento dos bons capitalistas verdes é a demonstração da necessidade de mascaramento das atividades da sociedade burguesa-industrial.
“É o próprio sistema, fundado na impiedosa competição, nas exigências da rentabilidade, na corrida atrás do lucro rápido que é o destruidor dos equilíbrios naturais. O pretenso capitalismo verde não passa de uma manobra publicitária, de uma etiqueta que visa vender uma mercadoria, ou, na melhor das hipóteses, de uma iniciativa local equivalente a uma gota de água no solo árido do deserto capitalista” (LÖWY, 2006, p.50-51).
Recentemente realizei com meus colegas de faculdade uma breve pesquisa entre as indústrias da cidade de Londrina sobre a abrangência de suas políticas sócio-ambientais. Várias delas simplesmente se negaram a dar qualquer informação. O que foi verificado é que, mesmo diante de uma simples análise dos fatores fundamentais de suas ações ambientais, a recusa e incompreensão da questão demonstrou a extrema ausência de gestão e preocupação com o assunto. Este fato, certamente, vem precedido por uma mentalidade capitalista que “com seu cálculo imediatista de perdas e lucros, é intrinsecamente contraditória com uma racionalidade ecológica” (LÖWY, 2006, p.50). É possível, ainda, apontar que tais atitudes se mostraram coerentes ao estilo de gestão estatal que temos atualmente onde a conscientização das pequenas e médias empresas sobre suas influências na sustentabilidade do meio ambiente é sistematicamente ignorada.
A recusa dessas empresas, em especial as de pequeno e médio porte, se fundamenta, principalmente, no fato de não possuírem nenhuma estruturação que vise a sustentanbilidade ambiental. Em débito com as legislações ambientais acreditam que, pelo porte e aparente abrangência de suas atividades, representam uma ameaça muito pequena ao meio ambiente. Novamente vê-se que a mentalidade reinante na sociedade obviamente é reproduzida nas empresas. Nenhuma empresa se vê realmente como uma responsável direta pelas alterações ambientais. Todas são imbuídas de um ideário que visa o lucro, a produção e o crescimento de forma imediatista e completamente indiferente com as gerações futuras.
Uma transformação radical se faz necessária. O capitalismo não consegue resolver os principais problemas ambientais (e aqui não vamos entrar no âmbito social) que ele próprio criou.
Portanto, as ações das empresas atuais se fundam inocentemente sobre a incompatibilidade do sistema onde estão inseridas e as atividades nocivas ao meio ambiente e a continuidade da vida do planeta. Não se trata da simples alteração do modo de produção ou a redução dos danos causados ao meio ambiente e sim de uma incontestável transformação do modo de produção, consumo e relacionamento humano. Tais mudanças, evidentemente, carecem de uma força muito grande por parte dos órgãos governamentais, para-estatais e da própria sociedade que deve suplantar a cultura do uso e da ostentação e atribuir uma mentalidade ecológica aos novos arquétipos que se almejam atingir.
As reformar e tentativas paliativas são de todo insuficientes. As transformações que o capitalismo causa à natureza têm pouco valor diante das inúmeras "vantagens" obtidas a partir da exploração dos recursos naturais e a degradação do meio ambiente. A convergência de parte do faturamento em ações que compensem a destruição dos ambientes naturais se apresenta estéril perante o restante do faturamento que será usado no crescimento da produção, implemento de novas e poluidoras formas de exploração dos recursos naturais.
Atualmente vivemos imersos nesse sistema contínuo de consumo e produção. Não paramos para analisar que as atividades hoje realizadas serão refletidas em anos, décadas e séculos. E, claramente, isso faz parte do pensamento daquilo que chamamos de sociedade contemporânea.
Constantemente sou questionado da seguinte forma: "Mas devemos (nós os conscientes) agir da forma que podemos. Mesmo que a reciclagem do lixo de nossas residências seja insignificante temos que fazer nossa parte”. Concordo plenamente. Mas não posso deixar de me afirmar que mesmo que o mundo todo resolva reciclar seu lixo o problema não será estirpado. Será apenas mais um paliativo.
LÖWY, Michael. Ecologia e Socialismo. São Paulo: Cortez, 2006.
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