O jornalismo, antes restrito aos grandes conglomerados de telecomunicação, está sendo substituído pelos meios de comunicação mais baratos e de fácil compartilhamento. Um exemplo "clássico" são os blogs. Como um sistema que garante que qualquer um possa expor suas idéias a cerca de qualquer assunto a qualquer momento e de forma rápida e barata desenvolveu também a interessante capacidade de compartilhamento e propagação de idéias a respeito de determinada notícia antes formatada e condensada de acordo com os ideais e interesses de meia dúzia de setores da economia e política. A possibilidade de difundir várias idéias vistas dos mais variados ângulos de uma notícia agrada à maioria dos adeptos desse tipo de mídia, uma vez que o distanciamento das especulações e distorções da mídia tradicional cai bem aos que, detentores de um nível cultural mais alto, priorizam a inventividade e originalidade do que lêem e vêem.
As mudanças, como dito, por serem extremamente rápidas têm causado um imenso choque de valores. O compartilhamento de arquivos e textos sem distinção esbarra nas leis de direitos autorais até então firmemente defendidos por todos mesmo que inconscientemente. A imagem de ilegalidade e a "transgressão" daqueles adeptos de tais práticas podem ser vistos como efeitos colaterais desse choque de valores. Ao mesmo tempo em que é interessante dispor de músicas e vídeos com a agilidade de um click sem as preocupações (e custos) de adquiri-los nas lojas é preocupante imaginar até que ponto esse sistema unilateral irá se manter. Até onde as indústrias cinematográficas e fonográficas, por exemplo, irão suportar a crescente demanda de conteúdo sem o devido retorno? Há algum outro sistema que poderá substituí-lo?
Digressões catastróficas à parte, pode-se afirmar que a culminação final dessas mudanças é incerta. Nenhuma previsão pode realmente vislumbrar o desfecho desse embate. Certo é que as tendências tecnológicas influenciam e fascinam os mais conservadores e que a maioria dessas tendências vêm se afirmando dia pós dia. Nesses tempos de perplexidade em que vivemos tudo parece incerto e efêmero. Todas as novidades surgem como relâmpagos e se dissipam no ar. As que efetivamente permanecem o fazem geralmente pela inconstância dos indivíduos alienados por tais novidades ou, em casos raros, pela necessidade de tê-lo (necessidade essa geralmente criada por essa mesma novidade). Pode-se notar, então, que essa incerteza, relatividade e inconstância das relações tecnológicas passam a influenciar todos os campos da sociabilidade, uma vez que os avanços tecnológicos permeiam atualmente todos os campos da vida em sociedade. O ser humano social passou a reproduzir a rapidez, fugacidade e o caráter descartável da tecnologia nos campos das relações humanas, do meio ambiente, da política, ética e moral.
É possível notar, então, que os dilemas e mudanças que estamos enfrentando suplantam as barreiras da economia, política, comércio e comunicação. Tais mudanças estão acontecendo dentro de cada ser humano que imerso nas ondas da tecnologia esquece-se de que o planeta, as relações humanas, as atividades que exigem a sensibilidade e a criatividade puramente humanas não são descartáveis nem podem ser recarregadas a cada click do mouse como programas de computador. É cada dia mais latente a negação das atividades humanas em detrimento das novidades arrojadas do mundo high-tech.
Logo, as implicações das mudanças no âmbito da tecnologia estão intimamente ligadas e influenciam constantemente a forma como o homem moderno vê o mundo e se comporta diante de situações antes precisas e certas e agora discrepantes e incoerentes com a realidade.
O necessário, talvez, seja encontrar o tão sonhado equilíbrio entre esses dois mundos distintos. O que, provavelmente, será algo dificilmente alcançado.
Baseado no texto de Nemo Nox, "Mundos em colisão"
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